Amar Demais... Um Erro!

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tirinha


Adicção : Drogas, Álcool e Outros Comportamentos



Adicção (“Addiction”) – é uma dependência física e psicológica em relação a determinadas substâncias, actividades e relações. Através destas a pessoa procura um estado de gratificação imediata (prazer, euforia, alteração de estado de consciência, redução da tensão e ansiedade, alívio do sofrimento) apesar das consequências negativas que acarretam (isolamento, bloqueio do crescimento pessoal, doença, desaprovação social, perdas financeiras e de saúde, perda de relações significativas, violência, abuso, actividades criminosas e morte.)

Que tipos de Adicção existem?
Adicção a substâncias psicoactivas – dependência de drogas lícitas e ilícitas, álcool, tabaco
Adicção a actividades e comportamento – jogo compulsivo, sexo e pornografia, internet, trabalho, exercício físico, compras, distúrbios do comportamento alimentar – anorexia, bulimia e voracidade alimentar
Adicção ou co-dependência em relação a uma pessoa e a dinâmicas relacionais emocionalmente desgastantes, abusivas, obsessivas e desequilibradas que promovem a dependência e bloqueiam o crescimento e autonomia dos parceiros.

Como se manifesta?
Os sintomas, intensidade e consequências na vida da pessoa variam com os diferentes tipos de adicção. No entanto, existem alguns traços comuns.
Preocupação constante ou obsessiva em relação ao objecto de adicção (pessoa, substância, actividade) que ocupa o centro da vida da pessoa em detrimento de outras actividades recreativas e de bem-estar pessoal, negligenciando outras áreas da sua vida, responsabilidades familiares, profissionais e sociais;
Aumento da Tolerância: aumento progressivo do consumo (no caso das substâncias) e da frequência das actividades para obter os efeitos iniciais de prazer, euforia, “anestesia” ou sensação de preenchimento;
Síndrome de privação ou abstinência: a pessoa experiencia sintomas físicos e psíquicos de mal-estar, sofrimento, vazio e emoções perturbadoras quando fica privado do seu objecto de adicção, necessita da substância, relação ou actividade para se sentir que está a “funcionar normalmente”.
Perda de Controle sobre o comportamento: mantêm o mesmo comportamento apesar das consequências negativas e dos danos visíveis; não controla o impulso ou desejo intenso (Craving) para consumir ou actuar na sua adicção; a argumentação lógica, informação e o confronto com as consequências negativas para mostrar a “insanidade” do comportamento tornam-se insuficientes para a pessoa interromper o processo adicitivo;
Falham os esforços repetitivos para interromper o comportamento e quebrar o ciclo vicioso: ocorre um progressivo esvaziamento da força de vontade individual, aumento do isolamento, sentimentos de inadequação, resignação, baixa auto-estima, impotência, ansiedade e desespero;
Negação do problema, ambivalência e desresponsabilização: a pessoa nega, defende o seu comportamento, minimiza a gravidade, justifica, culpabiliza os outros ou circunstâncias pelo problema, ambivalência (por lado quer parar, mudar, por outro não….) adia a resolução do mesmo; o seu nível de consciência sobre o seu comportamento, seus efeitos, responsabilidade e meios para mudar é muito reduzido ou nulo.

O que pode acontecer se não interromper o processo adictivo?
Consequências negativas ao nível da saúde física e psíquica, na relação familiar, no desempenho pessoal, social, profissional e financeiro. Qualquer comportamento adictivo, pela sua natureza obsessiva e compulsiva, consome muito tempo e energia, que podiam ser gastos nos processos evolutivos normais e saudáveis; a pessoa perde oportunidades de crescimento e realização do seu potencial máximo. Tem sempre um custo pessoal, social, económico e espiritual!

Como começa e se desenvolve?
São vários os motivos que levam uma pessoa a usar substâncias psicoativas pela primeira vez ou recorrer a um determinado comportamento e actividade para obter prazer ou outro tipo de gratificação. Entre estes destacam-se a curiosidade, expressão de emancipação e criatividade, necessidade de aceitação, reconhecimento e afirmação, fascínio pelo risco ou acto ilegal, sensação de poder e invulnerabilidade, sensações de tranquilidade, relaxamento, preenchimento, alívio de stress, da ansiedade e outras emoções perturbadoras. Contudo, para que se transforme numa adicção é preciso a combinação dos seguintes factores:
1.  Pré-disposição genética ou susceptibilidade física e psíquica maior da pessoa para desenvolver comportamentos adictivos;
2. Persistência e repetição do comportamento e padrão de pensamento ao longo do tempo e sobre o qual a pessoa não tem consciência do seu potencial destrutivo;
3. Presença de reforços do meio familiar, social ou cultural que facilitam o acesso, modelam ou incentivam o desenvolvimento desse comportamento;
Na fase inicial do processo adictivo, o recurso ao objecto de adição funciona para a pessoa: proporciona-lhe bem-estar e é uma forma de dar resposta às suas necessidades; funciona e a pessoa repete! Mas à medida que se instala o padrão repetitivo e persistente, a pessoa não desenvolve outras formas saudáveis que satisfaçam as suas necessidades ou a ajudem a superar o mal-estar. Cria-se uma situação de desequilíbrio e de dependência. A partir de certa altura, o comportamento aditivo torna-se fonte exclusiva de prazer e alívio imediato, produz consequências negativas e torna-se o elemento limitador do processo de actualização e diversificação de experiências da pessoa.
 Já em estado de dependência, quando a pessoa experiencia sentimentos de vazio, perda de auto-estima, falta de sentido para a vida e sentimentos de culpa e revolta, quer pela perda de liberdade auto-infligida, quer pelos danos causados a outras pessoas significativas, tal experiência pode ser demasiado perturbadora. A pessoa reduz a sua consciência através de mecanismos de defesa, negando e minimizando a sua situação afirmando frequentemente: “não é tão grave assim…”; “eu controlo…paro quando quiser…”; “os outros também fazem…qual são o problema?”
Começam então as tentativas para controlar o comportamento; a pessoa afasta-se do objecto de adicção, tenta reduzir a frequência e sente a perda, “falta qualquer coisa”. Entra em estado de privação! Aqui a pessoa sofre o vazio, a ansiedade e em certas dependências surgem as perturbações físicas e psíquicas; o pensamento obsessivo produz o impulso para agir (voltar a estar com a pessoa, consumir, voltar a “ocupar” a mente, “desligar”, anestesiar, fantasiar…), para aliviar a tensão. Esta tensão é, por sua vez, é aumentada com a luta entre a força de vontade da pessoa que quer parar e outros mecanismos neurológicos e emocionais poderosos que forçam a repetição da experiência adictiva. É frequente verificar-se as adicções cruzadas ou substituição de adições, ou seja, de drogas para álcool, do álcool para o jogo ou comida, do trabalho para as relações ou sexo complusivo e vice –versa.
O princípio da mudança começa com a consciencialização e rendição. A pessoa reconhece e aceita que tem um problema e que precisa de ajuda; apesar de quer mudar não sabe como ou quando. Está dividida, a luta interna permanece, mas começa a dar uma oportunidade a si para procurar e aceitar ajuda, compreende que pela força de vontade isolada não consegue, começa a ter motivos fortes para mudar; ao aceitar apoio e ajuda começa a sentir que é capaz de superar; a aceitação da falência, das perdas e limitações requer humildade, a aceitação do facto de que está a lidar com mecanismos internos neurológicos e emocionais poderosos e que precisa de ajuda é um acto de rendição. Ao assumir para si próprio a sua derrota começa a ganhar! Com ajuda adequada e esperança começa o seu processo de recuperação.

Que tipo de ajuda existe?
Interromper um comportamento adictivo requer ajuda especializada:
Consultas de intervenção motivacional – têm como objectivo consciencializar a pessoa, ajudar a reconhecer a necessidade de mudança, motivar e orientar na procura de tratamento especializado ou apoios complementares;
Orientação e Intervenção familiar – são sessões que visam orientar a família em situações de crise, criar uma estratégia de intervenção para interromper o comportamento auto-destrutivo da pessoa em causa e encaminhar para serviços de apoio especializado;
Apoio na Recuperação e Prevenção de Recaídas – consultas individuais ou sessões de grupo que visam apoiar a recuperação da pessoa e regresso ao meio familiar, social e laboral, apoiando na gestão de stress, desenvolvimento de competências, antecipação de situações de risco e prevenção de recaídas.
Grupos de Entre-ajuda de 12 passos (Gratuitos): são grupos de encontro estruturados cujos participantes partilham o mesmo problema e o mesmo objectivo: recuperar de uma adicção! Identificam-se e oferecem entre si, suporte emocional e social, o conhecimento da experiência como estratégia de resolução. Em Portugal existem os seguintes grupos: Alcoólicos anónimos, narcóticos anónimos, co-dependentes anónimos, famílias anónimas, jogadores compulsivos
Centros de Tratamento e Reabilitação (Dependência de álcool e drogas): na dependência de álcool e drogas existem programas de Internamento de curta ou longa duração – a escolha de um tratamento de curta ou longa duração deverá seguir alguns critérios e indicações do diagnóstico médico:
 Internamento de longa duração com o mínimo de 3 meses estendendo-se a 2 anos, geralmente afastado do meio da pessoa, em espaços residenciais protegidos ou comunidades terapêuticas, indicado para os indivíduos que apresentam: problemas médicos sérios, ausência de estrutura familiar ou suporte social, problemas psiquiátricos associados, membros no agregado familiar com problemas de dependência de substâncias, resistência intensa ao tratamento;
Internamento de curta duração de 28 dias a 12 semanas com o complemento de apoio em ambulatório para a prevenção de recaídas, indicado para os indivíduos com uma história de dependência recente ou moderada, que ainda tenham uma estrutura e ambiente familiar relativamente seguros em relação ao uso de químicos, que estejam motivados para o tratamento e revelem, pelo menos, uma certa consciência do seu problema.

Tenho uma pessoa na família que precisa de ajuda, o que posso fazer?
Intervenção familiar! A intervenção familiar é um método poderoso e comprovado que quando conduzido eficazmente ajuda a interromper o ciclo vicioso da adicção e superar a situação de crise, ajudando a pessoa a reconhecer a necessidade de ajuda, orientá-la para tratamento ou outro tipo de ajuda; é um processo estruturado focado na solução que consiste em juntar um grupo de amigos, colegas, familiares e outras pessoas significativas da pessoa que sofre de adicção e que se juntam com o propósito único de apresentar e expressar com respeito, apreço e firmeza as suas preocupações e observações acerca do comportamento da pessoa. Existem passos a seguir para que a intervenção seja eficaz.

Sofri uma recaída, o que posso fazer?
A recaída é um fenómeno muito comum. A recuperação de um comportamento adictivo, envolve alterações no comportamento e no estilo de vida, é um processo gradual, profundamente pessoal, de mudança de atitudes, valores, sentimentos, objectivos, competências e papéis. A recaída é um sinal para identificar o que não está a funcionar e o que precisa de ser mudado. Não é fraqueza, nem derrota. Pode ser uma oportunidade de aprendizagem. O mais importante é sair da paralisação que a culpa, a vergonha ou a frustração possam criar; é pedir ajuda e identificar o que está a acontecer e que medidas precisa tomar.

Autor: Paula Serpa
Fontes:
Usos, Abusos e Dependências – Alccolismo e Toxicodependência. Coord. Borge, C. & Filho, H.(Ed. Climpesi)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Crônica : Triz



Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo.
Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente.
Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias.
Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em nada, plena em nada, tranqüila em nada, feliz em nada.
Todos os dias eu quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer: “Ei, não quer conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca.
Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro.
Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença, eu quase não escrevo esse texto.
O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.

Tati Bernardi




sábado, 25 de fevereiro de 2012

Paracetamol pode curar coração despedaçado


Segundo uma publicação no jornal Daily Mail, o Paracetamol (medicamente usado para aliviar dores) também é capaz de sarar um coração “despedaçado”. De acordo com o informativo, neurocientistas descobriram que as dores emocionais e físicas são processadas em uma mesma região do cérebro.
Dessa forma, ao tomar um analgésico, a pessoa pode aliviar sentimentos que a estejam incomodando. A experiência que provou essa hipótese foi realizada ao longo de três semanas na Universidade da Califórnia, nos EUA. Nela, 62 pessoas foram orientadas a tomar Tylenol ou um placebo e depois anotar como se sentiam.
O estudo descobriu que aqueles que tomaram 1.000 mg do analgésico (cerca de dois comprimidos) tiveram uma redução considerável dos “sentimentos feridos”. Em outro teste, os participantes utilizaram um jogo de computador que foi desenvolvido para que eles se sentissem rejeitados.
O resultado mostrou que o grupo de pessoas que fez uso do analgésico apresentou menor atividade em relação à dor em seus cérebros do que os participantes que tomaram o placebo.



(http://www.tecmundo.com.br/saude/19813-paracetamol-pode-curar-coracao-despedacado.htm)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Um inimigo com várias faces


Acessos de pânico, comportamentos compulsivos e fobias são algumas expressões da ansiedade – um transtorno que pode ser curado.

Ser mais ou menos ansioso é um traço relativamente estável de personalidade que se reflete na percepção de situações como perigosas ou ameaçadoras. O estado de ansiedade propriamente dito, entretanto, pode ser considerado um momento de ruptura que causa enorme desconforto. Tensão, apreensão e inquietude dominam todos os outros aspectos da personalidade e desencadeiam (ou são desencadeados) por manifestações orgânicas – provocadas pela ativação do sistema nervoso autônomo – que vão da aceleração do batimento cardíaco ao suor intenso, da respiração arquejante à repetição de gestos estereotipados.
Os transtornos de ansiedade, embora associados à presença de estados de tensão, assumem diversas formas. O reconhecimento de uma matriz comum a todos eles é uma aquisição relativamente recente da ciência. O transtorno de ansiedade pode se manifestar como súbito ataque de pânico, como fobia simples (na qual se sente que a ameaça provém de estímulos bem específicos), ou ainda como fobia social (provocada quando esquemas cognitivos “mal calibrados” percebem ameaças potenciais em situações sociais banais).
Há também o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), no qual a mente é invadida por pensamentos incômodos que são exorcizados com rituais repetitivos. Pelo menos na adolescência, quase todos passamos por um período em que cultivamos pequenos rituais que ajudam a aliviar estados de ansiedade. Não são poucas as pessoas que, antes de sair de casa, têm o hábito de verificar, repetidamente, se a porta está trancada. Em geral, tudo termina aí. Mas, para quem sofre de TOC, estas atividades podem, literalmente, consumir o tempo, exigindo uma ou mais horas do dia para ser executadas, tornando as ações cotidianas mais banais extenuantes.
Esses comportamentos rituais ou compulsões são respostas destinadas a aliviar um estado de ansiedade que se manifesta por meio de ideias obsessivas e pensamentos perturbadores, dos quais a pessoa não consegue se livrar. A gama de elucubrações pode ser muito vasta, indo desde a idéia de ser infectado por bactérias que parecem estar por todo lado até a presença constante de imagens ou cenas consideradas repugnantes ou o receio de fazer mal a pessoas queridas.
Racionalmente, o paciente sabe bem que os rituais que emprega – como lavar continuamente as mãos, contar determinada série de números ou dispor os objetos segundo uma simetria particular – não têm nenhum significado, salvo o de proporcionar uma pausa momentânea na ansiedade que o incomoda.
Outra face dos transtornos de ansiedade se manifesta na fobia social, na qual a permanente impressão de ser observado e julgado muitas vezes leva a uma paralisia. Em certo sentido, pessoas que sofrem dessa fobia são incapazes de “esquecer o próprio medo” para inserir-se na situação social em que estão naquele momento.
Por vezes esse estado só se manifesta em situações específicas – como falar em público, comer, escrever ou telefonar na presença de muita gente. Em alguns pacientes, porém, os sintomas surgem até mesmo quando é reduzido o número de pessoas à sua volta. A perspectiva de enfrentar uma das situações tão temidas provoca um forte estado de apreensão dias antes. Não é raro que o sociofóbico manifeste sua ansiedade fisicamente, enrubescendo, suando ou tremendo, algo que o faz se sentir, ainda mais, como alvo de possíveis críticas. Deflagra-se então uma espiral de desconforto, sensação que persiste mesmo após a situação crítica, alimentada por pensamentos de autodepreciação e receio da opinião alheia. A fobia social pode interferir nas atividades escolares, profissionais e na capacidade de fazer e manter amizades.
Um caso particular é o transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Além de apresentar graus de intensidade – do mais leve, em que é difícil distingui-lo dos traços de personalidade, até o mais preocupante – está, muitas vezes, associado a outras formas de ansiedade e, sobretudo, à depressão maior. Para pacientes com TAG, qualquer problema (seja mal-estar físico, dificuldade no trabalho ou discussão familiar) pode ser motivo para a antecipação de situações catastróficas.
Em casos mais graves, ao levantar de manhã, a pessoa fica ansiosa só de pensar nas atividades cotidianas que deverá enfrentar. A ansiedade manifesta-se também fisicamente, por meio de cansaço, cefaléia, tensões e dores musculares, dificuldade de digestão, tremores, convulsões, irritabilidade, suor e acessos de calor. Em muitas ocasiões, o paciente percebe a desproporção entre a realidade da situação e o nível de ansiedade, mas essa consciência racional não consegue dissolver os temores que ocupam a mente. A incapacidade de relaxar repercute na força de concentração, perturbada pela constante intrusão de sentimentos de ansiedade, e na possibilidade de ter um sono tranqüilo.
Pessoas que sofrem de TAG, diferentemente das que têm outros tipos de ansiedade, não evitam situações específicas. Se o transtorno não assumir formas graves, não interferirá na capacidade de integração social e na atividade profissional. Por isso, a importância dessa forma de ansiedade foi por muito tempo subestimada. Atualmente, porém, o problema recebe maior atenção, seja porque se apresenta, com freqüência, associado à depressão maior ou porque o acúmulo da experiência clínica revelou que, nas formas mais intensas, até mesmo a execução das atividades cotidianas mais banais pode se tornar algo extremamente penoso. Diversos estudos confirmaram a existência de duas dimensões psicopatológicas independentes, uma caracterizada pelo medo, temor, preocupação e angústia, e outra pela tristeza, humor deprimido e sentimento de culpa. Desse ponto, ambas as manifestações estão presentes em todas as pessoas com transtornos depressivos ou com TAG, mas uma delas pode predominar.

(Por Gianbruno Guerrerio http://www2.uol.com.br)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO


O ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO é uma das manifestações dos transtornos de ansiedade. Ocorre em consequência de um evento traumático, fortemente ameaçador. O evento pode ter acontecido com a pessoa ou ela pode ter sido apenas testemunha. 
A característica principal do estresse pós-traumático consiste em um tipo muito forte de recordação - chamado revivenscência. Não se trata apenas de memória do acontecido, mas a sensação de estar revivendo novamente a tragédia e todo o sofrimento original. Assim, a pessoa revive tanto a memória do acontecido quanto as sensações de angústia e sofrimento físico da situação traumática.
Um trauma não é necessariamente um acidente ou situação de ameaça, como morte, estupro ou sequestro. Por definição, trauma é qualquer evento que deixe sequelas de sofrimento psíquico recorrente, acompanhado das alteraçãoes/mal-estar corporal quando há a revivescência.
Há eventos considerados pouco graves, como um acidente de trânsito sem vítimas. Apesar da aparente pouca gravidade, este acontecimento pode levar uma pessoa a apresentar os sintomas do stress pós-traumático. Até mesmo um susto forte no trânsito, para alguém que está aprendendo a dirigir, tem o potencial para deixar sequelas relacionadas ao stress pós-traumático.
Na situação potencialmente traumática, a pessoa apresenta imediatamente após o evento reação forte de medo, desamparo ou desesperança. Depois disso, passa a ter recordações vívidas, intrusivas (involuntárias e abruptas) do acontecido, como “flashbacks”. Revive-se o acontecido, o que foi pensado e sentido, que causam sofrimento intenso. São também comuns pesadelos sobre o fato. Outros sintomas são insônia, irritabilidade, respostas autonômicas exageradas e até mesmo dificuldade de concentração/memória.
A pessoa passa então a evitar tudo o que tenha relação com este trauma: assuntos, lugares, pessoas, conversas, objetos e sensações.
Para diagnóstico de estresse pós-traumático, estes sintomas devem estar presentes por pelo menos um mês. Se o tempo for menor que um mês, não significa que a pessoa não teve nada, apenas que o rótulo diagnóstico não é adequado.
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático é como uma cicatriz no funcionamento psicológico, que ocorre quando as capacidades de enfrentamento são menores que a pressão decorrente do evento potencialmente traumático ou quando este é forte demais. Pessoas com problemas anteriores de ansiedade, medos, insegurança ou auto-estima rebaixada são mais suscetíveis a apresentarem estresse pós-traumático.

(http://www.dirigindosemmedo.com.br/stresspostraumatico.html)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Crônica : Hoje eu chorei com o caminhão de gás



A primeira coisa que eu vi quando abri os olhos foi a minha cachorrinha me espiando triste do corredor, eram quatro da manhã e eu já sabia que não iria dormir mais. Meu sono é interrompido de duas em duas horas por um pânico horrível que paralisa meus órgãos e só deixa viva a bile que toma todo o meu corpo e me faz querer vomitar até virar do avesso. Eu arregalo os olhos para o teto, fecho minhas mãos com uma força que quase faz com que minhas unhas cortem minhas palmas e deixo a onda da dor vir, ela me sacode inteira, me joga numa profundidade sem som e me afoga por completo. Abro as janelas porque preciso de ar, mas nunca tem ar para meu pulmão afogado. Coloco o santinho que meu avô me deu no peito e peço a ele: você já morreu por amor, não deixe acontecer o mesmo comigo. Amar dói tanto que você volta a lembrar que existe algo maior, você se lembra de Deus, você se lembra de vida após a morte. Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dói tanto que não dói mais, como toda dor que de tão insuportável produz anestesia própria. Você apela pra todo e qualquer santo, pra cartomante, pra ex-namorado, pra tarólogo, astrólogo, psicólogo, numerólogo, amigo e apela até pra inimigo. Qualquer um, pelo amor de Deus, tire essa dor de mim. Não adianta, não vou dormir mais. Mas vou fazer o que então? Minha cama me lembra você, minha cachorra me lembra você, beber água me lembra você, viver me lembra você. Vou me levantar agora e ir para onde? Tomar banho? Tomar café? Não tenho nenhuma vontade de existência, seja de vaidade ou gula. Só quero ficar deitada, mas ficar deitada também dói. O mundo não tem posição confortável pra mim, aonde vou, essa merda de dor horrível vai junto. Chorar não adianta, eu seco de tanto chorar e não passa. Ver TV, falar ao telefone, dançar, gritar, escrever, abraçar minha mãe, tomar suco de manga… nada adianta. Eu sei, eu sei, o eterno clichê “isso passa”. Passa sim e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: eu não vou mais te amar. É triste saber que um dia vou ver você passar e não sentir cada milímetro do meu corpo arder e enjoar. É triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo não vai desaparecer. O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim. Meu amor está cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu não quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto. Eu me agarro à beiradinha do meu amor, eu imploro pra que ele fique, ainda que doa mais do que cabe em mim, eu imploro pra que pelo menos esse amor que eu sinto por você não me deixe, pelo menos ele, ainda que insuportável, não desista. Minha cachorra pede um biscoitinho, aí eu choro porque eu lembro que você adorava dar biscoitinho para ela. Está sol, e eu choro porque você ficava feliz com o sol e você feliz era tão perfeito que eu tinha medo. Aí eu vou escovar meus dentes e choro porque você tirava sarro da minha escova elétrica, depois eu faço xixi e choro porque a gente tinha liberado o xixi de portas abertas. Eu abro o guarda-roupas e choro porque eu não quero ficar bonita, eu não quero dar a volta por cima, eu não quero ficar bem pra você ver que eu estou bem e quem sabe ter saudades. Choro porque acho ridículo os jogos da vida, qualquer coisa é ridícula perto desse amor que é tão simples e óbvio. Quando finalmente eu consigo me arrumar em meio a esse rio de lágrimas, eu choro porque o caminhão do gás passou e aquela musiquinha idiota, mais algumas crianças berrando na quadra lá embaixo e mais dois passarinhos cantando na minha janela, me lembram que a rotina, a alegria e a pureza ainda existem, apesar de você não estar mais aqui. Nada, nada aconteceu para o mundo. E eu me sinto minúscula e sozinha por não ter a cumplicidade da vida lá fora, por não ter um minuto de silêncio pela nossa morte, por ter que sentir tudo isso sozinha, entre escovas de dentes, xixis e roupas dobradas e cheirosas. Odeio a ordem de tudo, odeio a funcionalidade de tudo, odeio que a TV ligue, que o telefone toque, que meu estômago peça comida, que japonesas riam fora de hora, que meu carro corra, que a bola quique duas vezes antes e, principalmente, que você, não muito longe daqui, sorria. Dirijo até meu trabalho sem nada dentro de mim a não ser um monstro parasita que se alimenta do meu desespero, nenhum farelo de comida. Meu lado da frente está quase colando ao de trás, talvez na falta de você eu precise mesmo me juntar mais a mim mesma. Minha mesa está lá, meu lixo está lá, minha cadeira, a menina grande que fala igual a um homem, a gordinha solícita que não pára de me olhar até que eu olhe para ela, sorria e diga bom dia. Está tudo lá, mas você, mais uma vez, não está aqui. Vou para o banheiro e choro, que novidade? Mas dessa vez porque me olho no espelho, e isso também me lembra você. Eu era sua, a sua menina, a sua criança, a sua mulher, a sua escritora predileta, a sua parceira de dar risada de programas estúpidos que passam de madrugada na TV, a sua namorada sensível que tinha medo de vomitar e de amar demais, assim como você. A sua melhor amiga pra sentar num banco de praça e falar mal de todo mundo, pra perder um trem na Itália e ainda por cima sentar num chiclete fresco ou pra cuidar do nosso porquinho de pelúcia. Eu era a mulher que encaixava a cabeça nas suas costas e sabia que tinha nascido a partir de você, eu era a mulher que esperava sofridamente você voltar mas nunca deixou de te amar mesmo quando você ia. Todo mundo me fala que eu preciso ser minha, inclusive pra ser sua, mas eu não deixo de olhar para o espelho e ver uma metade de gente, uma metade de sonho, de sexo, de alegria e de futuro. Que se foda a auto-ajuda, que se fodam os livros com homens carecas, que se foda o terceiro olho (do cu?) e que se foda a psicologia: eu sou mesmo metade sem você e que se foda! Se antes de você aparecer eu já te amava, eu já te esperava, eu já sabia que você existia, como eu posso não te amar agora que você tem forma, sorriso, coração e nome?


Por: Tati Bernardi

Estupro


Uma pessoa que foi vítima de abuso sexual leva consigo insegurança, culpa, depressão, problemas sexuais e de relacionamento íntimo, baixa auto-estima, vergonha, fobias, tristeza, desmotivação, síndrome do pânico e, além disso, podem ocorrer tendências suicidas.
A psicóloga Olga Tessari explica que a vítima se torna estigmatizada, com uma tendência social de acusá-la direta ou indiretamente por ter provocado ou estimulado o ato. Dessa forma, ela pode se considerar "impura" ou "indigna" por pensar que, de algum jeito, colaborou com o ocorrido. "Por mais que digam que ela não teve culpa, a pessoa estuprada culpa-se", diz.
A mulher tende a imaginar que ninguém vai aceitar o que aconteceu e que o parceiro pode rejeitá-la por ter sido estuprada. Os traumas chegam a acarretar fadiga inexplicável, transtorno de apetite, insônia e falta de atenção.
A coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo - UNASP, Tercia Pepe Barbalho, conta que, durante o estupro, o corpo da mulher pode produzir as secreções responsáveis pela lubrificação e até mesmo uma estranha excitação. O fato não acontece sempre, mas, quando ocorre, pode levar a pessoa a sentir ainda mais culpa. É importante ressaltar que se trata de uma defesa do organismo e não significa que houve de fato o prazer ou consentimento.
Logo vem o medo de não conseguir se relacionar com o sexo oposto ou aquele causador da violência e a desconfiança exagerada de tudo, além do isolamento. Todos esses traumas podem gerar problemas físicos como anorgasmia (falta de orgasmo), frigidez, falta de libido e fobia. Para atingir o prazer, a pessoa precisa estar completamente relaxada e, após um estupro, ela não consegue o feito, já que se lembra da cena do abuso durante a relação.
A psicóloga e perita Ester Esquenazi explica que a vítima tende a negar qualquer tipo de sentimento e prazer para que sofra menos e acaba se tornando insensível aos vínculos que possam trazer deleite. Por esse motivo, inclusive, a insensibilidade dos órgãos genitais se torna uma forma de defesa. Enfermidades como asma, epilepsia, diabetes, artrite, hipertensão e doenças coronarianas aumentam e fogem do controle nas situações de agressão sexual.
O alto nível de ansiedade decorrente do abuso pode trazer problemas como obesidade, anorexia, alergias, problemas do trato digestivo, taquicardia, tontura, falta de ar, uso de bebida, cigarro e drogas. De acordo com a psicóloga Silvana Peres, bissexualidade, homossexualidade, introversão e até problemas de pele fazem parte da lista.
Cada pessoa absorve o trauma de uma forma diferente, de acordo com a experiência de vida, valores e crenças. No geral, o primeiro passo do tratamento terapêutico é conscientizar o paciente de que ele não teve culpa no ocorrido, utilizando técnicas para reerguer a auto-estima. Dependendo da pessoa, é sugerido um trabalho em conjunto com a família. Devido à intensidade do trauma, em alguns casos, é preciso que um médico receite medicamentos que variam de pessoa para pessoa.
Algumas mulheres superam o problema sozinhas. De qualquer forma, na maioria da vezes, a pessoa simplesmente oculta a questão para si mesma, não resolvendo, mas apenas escondendo. O profissional não deve tratar a pessoa com sentimentos de pena, para que ela não se sinta vítima para sempre.
Caso a mulher tenha engravidado, tem a possibilidade, por lei, de abortar a criança. Nesse ponto, questionamentos vêm a tona, como o momento certo para gerar um filho ou não, sentir-se preparada para isso, saber se vale a pena ter uma criança que é fruto de um momento tão indesejado e, ao mesmo tempo, perguntar-se se deve interromper a gravidez, de acordo com a religião e valores que carrega.
"Se a pessoa não resolver estes conflitos, certamente o filho será indesejado e sofrerá muito com os maus tratos dessa mãe que verá nele, a todo o momento, o fruto de um trauma que a fez sofrer e que a mantém em sofrimento", afirma Olga.
É o que acontece com *Helena. A técnica de enfermagem sofreu de abuso sexual há 22 anos e até hoje vive sob o mesmo teto do agressor: o marido, que não foi denunciado por medo. Como fruto do estupro ela teve uma filha, com quem se esforça para manter uma boa relação, engordou, se tornou ansiosa, nervosa, perdeu o emprego e não consegue ter amigos, porque o esposo pode não gostar.
"Aconteceu na volta de uma viagem à casa de meus pais. Ia passar 20 dias fora, mas acabei ficando uma semana a mais. Quando cheguei, com meu filho pequeno, ele pegou o bebê, jogou num canto e me atacou dizendo que queria saber se eu estava com outro na viagem e por isso demorei em voltar. Eu avisei para ele que não podia ser daquele jeito, senão iria ficar grávida e não tínhamos condições de ter outro filho ainda. Ele disse que se eu estivesse grávida o filho não era dele e queria a prova de que eu tinha ficado 30 dias sem ninguém. Por isso, me estuprou. Passei a ter medo dele. Tive uma filha e odiava aquela criança. Nunca nos demos bem. Vi-me várias vezes dizer coisas terríveis para ela. Depois me arrependia", conta.
Ester lembra que há alguns casos de estupro que foram tão traumáticos, que não puderam ser superados de forma alguma. "Posso dar um exemplo, onde uma mulher foi estuprada por sete homens e, apesar de todo amparo, ela não agüentou o sentimento de ser usada e acabou se atirando no metrô, causando morte imediata. Nos casos onde a recuperação é inatingível, o suicídio é a opção que eles encontram", diz.
Para ir esquecendo ou amenizando os efeitos do acontecido, a vítima deve, aos poucos, permitir o diálogo sobre o fato. A ajuda do psicólogo é importante para extravasar sentimentos como raiva, repulsa, dor, nojo e vergonha.
(http://www.olgatessari.com)

Tirinha


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Relacionamentos maduros



Sua amiga telefona avisando que, depois de uma longa estiagem, voltou a chover na sua horta: está namorando. Quem? Quem, você pergunta curiosa.
Descobre que ele se chama Mateus, um cara sensacional que não sente um pingo de ciúmes dela, que a incentiva a sair sozinha com as amigas e que acredita que a independência é o elixir da felicidade. Enfim, um relacionamento maduro.
Você então deseja que eles sejam felizes, que amem-se muito, que sigam preservando sua individualidade e que a relação progrida dentro desse clima de respeito e confiança. Ao desligar, se sente a mais infantil das criaturas.
Momentos antes de falar com sua amiga, você estava à beira de um ataque de nervos porque seu namorado disse que não iria passar na sua casa, estava exausto. O que isto significa? Num relacionamento maduro, significa que ele está mesmo exausto e que os dois podem muito bem ficar sem se verem uma noite. Mas para ela, é a prova de que ele não a ama  mais, que está desinteressado, ou armando alguma. Você é assim: sofre por ficar cinco minutos longe de quem gosta. Você não está preparada para um relacionamento maduro.
Em relacionamentos maduros, cada um reivindica o seu espaço. Em relacionamentos maduros, o esquecimento de uma data importante não é motivo para briga, elogiar a beldade que entrou no restaurante é uma coisa natural e conviver com ex-namorados é civilizado. Em relacionamentos maduros, ninguém inspeciona colarinhos, fiscaliza a agenda alheia ou fica ouvindo conversas na extensão. No planeta dos maduros não se atiram vasos contra a parede.
Imagine se soubessem que você entra em surto cada vez que seu namorado cumprimenta uma fulana da época do primário, que não descansa enquanto ele não diz onde esteve e com quem, que se sente incomodada até quando ele tira uma prima pra dançar. O que pensariam se soubessem que você desconfia quando liga para o escritório e ele não está, que você costuma dar uma geral no porta-luvas do carro em busca das provas de uma suposta traição e que bisbilhota o canhoto do talão de cheques dele? Que diriam se soubessem que você adora que ele proíba seus decotes e que já o procurou no Instituto Médico Legal por causa de um atraso de 25 minutos?
Relacionamentos maduros. Podem não ser animados, mas dão muito menos trabalho.
(Martha Medeiros)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Lidando com o Luto



A sensação de perda (luto) é um sentimento que, inegavelmente, mais cedo ou mais tarde todos experimentarão, pois todos se defrontam com a morte de alguém querido durante a vida. Talvez pelo fato desse sentimento aparecer habitualmente com certa surpresa, a possibilidade das perdas não costuma habitar a consciência das pessoas afetivamente bem. Dessa forma, o mais comum é que as pessoas estejam despreparadas para a perda.
Fisiologicamente a angústia ocorre após qualquer tipo de perda, entretanto ela é mais forte depois da morte de alguém que amamos. O luto não é apenas um sentimento, mas uma série de sentimentos característicos e que levam certo tempo para passar, além de não se poder apressá-los.
Apesar das diferenças entre as pessoas, a ordem em que estes sentimentos aparecem durante o luto é bastante semelhante. A tristeza é o sentimento mais comumente experimentado após a morte de alguém apreciado, geralmente há algum tempo. A exceção à regra ocorre em pessoas que tiveram abortos espontâneos ou natimortos, ou naquelas que perderam os bebês ainda muito precoces. Nesses casos, apesar de não apreciarem a pessoa perdida há algum tempo, sofrem uma experiência semelhante de luto necessitam do mesmo tipo de atenção.
1. – Dormência Emocional
Em poucas horas após o conhecimento da morte de alguém querido, a maioria das pessoas sente uma espécie de atordoamento emocional, como se não pudesse acreditar que realmente aconteceu. Esse sentimento existe, ainda que em grau geralmente diminuído, mesmo que a morte estivesse sendo esperada. Apesar de fisiológica, essa sensação de irrealidade pode se tornar um problema se durar por muito tempo.
Compreensivamente, se a pessoa emocionalmente dormente se confrontar com o corpo da pessoa falecida poderá começar a ultrapassar esta fase de entorpecimento. Em geral, o enterro ou a cerimônia funerária são ocasiões em que a realidade do que aconteceu realmente começa a firmar-se. De fato, pode ser angustiante ver o corpo ou a assistir ao funeral, mas estas são maneiras de tomar pé da realidade e mentalmente dizer adeus à pessoa querida. Apesar de essas coisas parecerem demasiadamente dolorosas, se não forem realizadas poderão resultar em um sentimento de profundo pesar nos próximos anos.
2. – Inquietação ansiosa
Logo, porém, esta dormência emocional desaparece e pode ser substituída por uma terrível sensação de inquietação, de suspiros e sensação de querer ter a pessoa morta de volta, mesmo que isso seja claramente impossível. Essa sensação torna difícil relaxar ou concentrar-se e pode dificultar dormir adequadamente. Os sonhos podem ser extremamente perturbadores.
Nesta fase algumas pessoas sentem vontade de "ver" sua pessoa amada onde quer que estejam - na rua, no parque, ao redor da casa, principalmente nos lugares que passaram juntos. A fase de inquietação ansiosa pode ser dividida em outras sub-fases:
Raiva
Muitas vezes as pessoas sentem raiva nesta fase do luto – principalmente dos médicos, enfermeiros e outros profissionais que não impediram a morte, até de amigos e parentes que não fizeram o suficiente para evitar a morte, ou mesmo da pessoa “deixou-se” morrer.
Culpa
Outro sentimento comum é a culpa. As pessoas reviram mentalmente tudo o que gostariam de ter dito ou feito para a pessoa falecida. Entre o que poderia ter sido feito, algumas pessoas chegam a considerar algumas coisas capazes de ter evitado a morte. A pessoa enlutada pode precisar ser lembrada do fato da morte ser, geralmente, inexorável. A culpa também pode surgir diante da sensação de alívio emocional que se sente depois de alguém morrer, geralmente depois de uma doença crônica, demorada e dolorosa. Este sentimento de alívio é muito natural, extremamente compreensível e comum.
3. – Tristeza ou Depressão
Este estado de agitação é mais forte cerca de duas semanas após a morte, e é geralmente seguida por tristeza ou depressão, reclusão e silêncio. Estas mudanças súbitas de emoção podem parecer confusas para amigos ou parentes, mas são partes da trajetória normal do luto.
Na medida em que a inquietação ansiosa diminui, os períodos de depressão tornam-se mais freqüentes e atingem o seu auge entre quatro e seis semanas mais tarde. Crises de aflição podem ocorrer a qualquer momento, comumente desencadeadas por pessoas, lugares ou alguma coisa capaz de mobilizar lembranças da pessoa morta.
Normalmente as pessoas enlutadas podem surpreender as outras quando, de repente, explodem em lágrimas sem uma razão imediata aparente. Nesta fase, pode ser indicado manter a pessoa em luto afastada de outras que não a compreendem ou compartilham do sofrimento.
Tem sido considerado benéfico tentar voltar às atividades normais após duas semanas. Quando isso não acontece pode aparecer aos outros que a pessoa enlutada passa muito tempo sentada, quieta e sem fazer nada. Essa apatia e desinteresse refletem, na verdade, pensamentos recorrentes sobre a pessoa perdida.
Com o passar do tempo, o sofrimento do luto feroz cede e começa a dissipar-se. Diminuem os sintomas depressivos e a pessoa sente ser possível começar a pensar em outras coisas, a olhar novamente para o futuro. No entanto, a sensação de ter perdido uma parte de si mesmo costuma demorar muito tempo ainda ou nunca desaparecer totalmente.
Estas diferentes fases do luto, muitas vezes se sobrepõem e se mostram de maneiras diferentes em pessoas diferentes. A maioria se recupera de um grande luto dentro de um ou dois anos. A fase final do luto é um "abrir mão" da pessoa que morreu e início de um novo tempo de vida. A depressão pode desaparecer completamente, o sono e a energia voltam ao normal. Sentimentos e funções sexuais podem ter desaparecido por algum tempo, mas voltam nesta fase final.
Mesmo considerando a fisiologia dessas fases do luto, isso não quer dizer que haja um modelo “standard” de luto. As pessoas são diferentes e diferentemente reagem à vida, tanto nos momentos bons como nos sofrimentos.
Também as pessoas de variadas culturas lidam com a morte de maneiras distintas. Desde a pré-história nossos ancestrais vêem lidando de maneiras diferentes com a morte nas mais diferentes épocas e culturas. Ao longo dos séculos as pessoas em diferentes partes do mundo elaboram suas próprias cerimônias para lidar com a morte.
Em algumas comunidades a morte é vista apenas como uma etapa de um ciclo contínuo e não como um 'ponto final' da existência. Os rituais e cerimônias de luto tanto podem ser de natureza pública e demonstrativa, como privados e íntimos. Em algumas culturas o período de luto é fixo, em outras não se reconhece um tempo determinado, mas de qualquer forma os sentimentos vivenciados pelas pessoas enlutadas podem ser semelhantes nas mais diferentes culturas. Não se deve confundir a qualidade desses sentimentos relativos às perdas, muito semelhantes entre os seres humanos, com suas mais diversas formas de expressão.
Luto em Crianças
Embora as crianças não possam compreender o significado da morte antes dos três ou quatro anos, eles podem sentir a perda de parentes próximos da mesma forma que os adultos, podem chorar e sentir uma grande angústia. Porém, em crianças, diferentemente dos adultos, as fases do luto podem transcorrer mais rapidamente. Em idade escolar as crianças podem experimentar o sentimento da culpa mais intensamente, podem se sentir responsáveis pela morte de um parente próximo e, dessa forma, necessitar de uma atenção mais especial.
Os jovens podem não falar ou se queixar de sua dor, com medo de adicionar sofrimentos adicionais aos adultos à sua volta. Assim, um apelo especial se faz sobre o sofrimento das crianças e adolescentes e de suas necessidades diante do luto. Em geral a recomendação psicológica é para que escolares e adolescentes devam ser naturalmente incluídos na cerimônia funeral.
Solidariedade Terapêutica
Familiares e amigos podem ajudar passando algum tempo com a pessoa enlutada. Nesses casos, não tanto pelas palavras de conforto necessárias, mas sim a presença solidária durante o tempo de sua dor e de sua angústia. Um ombro amigo, compreensivo e mesmo silencioso expressará grande apoio quando as palavras não são suficientes. É importante dar para as pessoas tempo suficiente para se lamentarem.
Ajudar com a limpeza, compras ou cuidar de crianças pode aliviar o fardo inicial de estar sozinho. Idosos enlutados podem precisar de ajuda com as tarefas que o falecido companheiro fazia - lidar com contas, cozinhar, doméstico, ficando o carro à oficina e assim por diante.
Ter alguém do lado é importante quando as pessoas enlutadas sentem vontade de chorar ou falar sobre seus sentimentos de dor e sofrimento. Embora os sentimentos do luto acabem passando com o tempo, antes disso muitas pessoas pesarosas precisam falar e chorar. Quando não se sabe o que dizer para a pessoa enlutada é importante ser honesto e dizer isso para ela. Isto lhe dará a chance dela própria dizer o que quer.
As pessoas muitas vezes deixam de mencionar o nome da pessoa que morreu para a pessoa em luto por medo de que seja perturbador. No entanto, para a pessoa enlutada isso pode parecer que os outros estão se esquecendo de sua perda. Alguns podem achar difícil entender por que a pessoa enlutada quer continuar no mesmo lugar, na mesma casa em que viva com a pessoa querida antes da morte, mas isso é parte do processo de resolução da dor e não deve ser desencorajado.
Também deve ser lembrado que ocasiões comemorativas (não só da morte, mas também aniversários e casamentos) são particularmente dolorosas quando amigos e parentes fazem um esforço especial para estar junto. Nessas ocasiões a pessoa enlutada deve resolver o que será melhor para si.
Existem pessoas que não parecem sofrer tanto e impressionam a todos. São pessoas que não choram no funeral, evitam qualquer menção de sua perda e voltam à sua vida normal com rapidez impressionante. Isso pode não significar falta de sofrimento, mas sim uma forma particular de lidar com perdas e danos, um mecanismo de defesa contra o sofrimento. Algumas pessoas não se permitem lamentar com franqueza seus sentimentos, outras não têm essa oportunidade devido às pesadas exigências de cuidar de uma família ou de uma empresa. Outras pessoas podem manifestar sentimentos mais exuberantemente e até mesmo sofrer estranhos sintomas físicos de origem emocional ou quadros de depressão que se repetem ao longo dos anos seguintes.
Devido as reações vivenciais não-normais (veja na coluna ao lado) alguns enlutados podem começar a desenvolver um luto crônico e persistente. As sensações iniciais de choque e de descrença podem durar anos, com notável dificuldade em acreditar que a pessoa amada está morta. Outros podem continuar incapazes de pensar em outra coisa além da perda, muitas vezes fazendo o quarto da pessoa morta uma espécie de santuário para a sua memória.
A depressão, comum a quase todos os lutos, pode tornar-se muito mais grave, e um sinal disso pode ser quando a comida e a bebida são recusadas, assim como quando pensamentos de suicídio aparecem. Ocasionalmente, noites insones podem continuar por muito tempo e tornar-se um problema sério. Se a depressão continua por muito tempo, fugindo à norma da fisiologia do luto normal, pode haver necessidade de tratamento médico à base de antidepressivos e psicoterapia por algum tempo.
O luto vira o mundo da pessoa de cabeça para baixo e é uma das experiências mais dolorosas. Pode ser estranho, terrível e avassalador. Apesar disto, é uma parte da vida que todas as pessoas estão fadadas e geralmente não requer atenção médica. Entretanto, ao perceber-se agravamento do quadro depressivo, notadamente em pessoas com antecedentes de transtorno afetivo ou do humor, recomenda-se pronta intervenção terapêutica.
para referir:
Ballone GJ - Lidando com o Luto - in. PsiqWeb, Internet - disponível em http://www.psiqweb.med.br/,  2010.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Reuniões MADA PARÁ


Informamos que as reuniões do Projeto Mada Pará, que antes eram feitas nas Terças – feiras, foram transferidas agora para as Quartas - feiras, sendo que a 1º reunião do ano será no dia 29/02/2012 no mesmo horário ás 19:00 hs e no mesmo local: Colégio Josino Viana (Tv. Lomas Valentina, esquina da Av. Pedro Miranda.)


Graça Amorim Coordenadora Geral do Mada Pará

Dúvidas? Ligue para (91) 3087 - 6537

Codependência... Um assunto sério!



Intrigante e até misteriosa, é a aparente perseverança com que alguns familiares, normalmente cônjuges e companheiros(as), se dedicam aos parentes com problemas de dependência, alcoolismo, jogo patológico ou outro transtorno grave da personalidade. Difícil entender como e porque essas pessoas suportam heroicamente todo tipo de comportamento problemático, ou até atitudes sociopáticas dos companheiros(as), como se assumissem uma espécie de desígnio ou “carma”, para o qual fossem condenados para todo o sempre.
Não se consegue compreender porque essas pessoas abrem mão da possibilidade de ser feliz ou de diminuir o sofrimento, permanecendo atreladas à pessoa problemática, suportando toda a tirania de sua anormalidade, como se esse fosse o único papel reservado pelo destino.
Os profissionais com prática no exercício da clínica psiquiátrica sabem das dificuldades existenciais dessas pessoas codependentes, ou seja, “dependentes” dos companheiros(as) problemáticos, quando estes deixam o vício. Parece que os codependentes ficaram órfãos, de uma hora para outra, perdidos e sem propósito de vida. Não é raro que passem elas, as pessoas codependentes, a apresentar problemas semelhantes àqueles dos antigos dependentes que cuidavam.
Codependência é um transtorno emocional definido e conceituado por volta das décadas de 70 e 80, relacionada aos familiares dos dependentes químicos, e atualmente estendido também aos casos de alcoolismo, de jogo patológico e outros problemas sérios da personalidade.
Codependentes são esses familiares, normalmente cônjuge ou companheira(o), que vivem em função da pessoa problemática, fazendo desta tutela obsessiva a razão de suas vidas, sentindo-se úteis e com objetivos apenas quando estão diante do dependente e de seus problemas. São pessoas que têm baixa auto-estima, intenso sentimento de culpa e não conseguem se desvencilhar da pessoa dependente.
O que parece ficar claro é que os codependentes vivem tentando ajudar a outra pessoa, esquecendo, na maior parte do tempo, de cuidar de sua própria vida, auto-anulando sua própria pessoa em função do outro e dos comportamentos insanos desse outro. Essa atitude patológica costuma acometer mães (e pais), esposas (e maridos) e namoradas(os) de alcoolistas, dependentes químicos, jogadores compulsivos, alguns sociopatas, sexuais compulsivos, etc.

O Codependente é Atado na pessoa problema
Uma expressão que representa bem a maneira como o codependente adere à pessoa problemática é atadura emocional. Dizemos que existe atadura emocional quando uma pessoa se encontra atrelada emocionalmente a coisas negativas ou patológicas de alguém que o rodeia; seja esposo, filho, parente, companheiro de trabalho, etc. Devida a essas amarras emocionais o codependente passa a ser quase um outro dependente (da pessoa problemática).
A Codependência se manifesta de duas maneiras: como um intrometimento em todas as coisas da pessoa problema, incluindo horário de tomar banho, alimentação, vestuário, enfim, tudo o que diz respeito à vida do outro. Em segundo, tomando para si as responsabilidades do outra pessoa. Evidentemente, ambas atitudes propiciam um comportamento mais irresponsável ainda por parte da pessoa problemática.
Percebe-se na codependência um conjunto de padrões de conduta e pensamentos (patológicos) que, além  compulsivos, produzem sofrimento. O codependente almeja ser, realmente, o salvador, protetor ou consertador da outra pessoa, mesmo que para isso ele esteja comprovadamente prejudicando e agravando o problema do outro.
Como se nota, o problema do codependente é muito mais dele próprio do que da pessoa problemática e, normalmente, a nobre função do codependente depende da capacidade de ajudar ou salvar a outra pessoa, que sempre é transformada em vítima e não responsável pelos próprios problemas.
Por causa do envolvimento de toda a família nos problemas do dependente ou alcoolista, considera-se que o alcoolismo ou o uso nocivo de drogas é uma doença que afeta não apenas o dependente, mas também a família.

Sintomas da Codependência
A Codependência é uma condição específica que se caracteriza por uma preocupação e uma dependência excessivas (emocional, social e a vezes física), de uma pessoa em relação à outra, reconhecidamente problemática. Depender tanto assim de outra pessoa se converte em uma condição patológica que caracteriza o codependente, comprometendo suas relações com as demais pessoas. Em pouco tempo o codependente começa a achar que ninguém apóia a pessoa problema (como ele), que ambos são incompreendidos, ele e a pessoa problemática, ambos não recebem o apoio merecido, etc.
O Codependente tem seu próprio estilo de vida e seu modo de se relacionar consigo próprio, com os demais e com a pessoa problemática. Devido sua baixa auto-estima, ele sempre se preocupa mais com os outros do que consigo mesmo (pelo menos aparentemente).
A pessoa codependente não sabe se divertir normalmente porque leva a vida demasiadamente a sério, parecendo haver um certo orgulho em carregar tamanha cruz, em suportar as ofensas, humilhações e frustrações. Como ele precisa desesperadamente da aprovação dos demais, porque no fundo ele mesmo sabe que está exagerando em seus cuidados com a pessoa problemática, procura ter complacência e compreensão com todos por uma simples questão de reciprocidade (quer que os outros também entendam o que está fazendo).
A Codependência se caracteriza por uma série de sintomas e atitudes mais ou menos teatrais, e cheias de Mecanismos de Defesa, tais como:
1. - Dificuldade para estabelecer e manter relações íntimas sadias e normais, sem que grude muito ou dependa muito do outro
2. - Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa problemática o codependente mantém-se com a serenidade própria dos mártires.
3. - Perfeccionismo. Da boca para fora, ou seja, ele professa um perfeccionismo que, na realidade ele queria que a pessoa problemática tivesse.
4. - Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros. Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase exageradas fazem com que o codependente esteja sempre super solícito com quase todos (assim ele justificaria que sua solicitude não é apenas com a pessoa problemática).
5. - Condutas pseudo-compulsivas. Se o codependente paga as dívidas da pessoa problemática ele “nunca sabe bem porque fez isso”, diz que não consegue se controlar.
6. – Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade ele se sente mesmo responsável pela conduta da pessoa problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta ser responsável também pela conduta dos outros.
7. - Profundos sentimentos de incapacidade. Nunca tudo aquilo que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser satisfatório.
8. – Constante sentimento de vergonha, como se a conduta extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de fato, sua.
9. – Baixa autoestima.
10. - Dependência da aprovação externa, até por uma questão da própria auto-estima.
11. - Dores de cabeça e das costas crônicas que aparecem como somatização da ansiedade.
12. - Gastrite e diarréia crônicas, como envolvimento psicossomático da angústia e conflito.
13. - Depressão. Resultado final
Parece um nobre empenho ajudar a outras pessoas que se estão se autodestruindo, como no caso dos alcoolistas ou dependentes químicos, do jogo ou do sexo compulsivos. Entretanto, se quem ajuda se esquece de si mesmo, se entrega à vida da outra pessoa problemática, então estamos diante da Codependência. A dor na Codependência é maior que o amor que se recebe e se uma relação humana resulta prejudicial para a saúde física, moral ou espiritual, ela deve ser desencorajada.
Na realidade a codependência é uma espécie de falso-amor, uma vez que parece ser destrutivo, tendo em vista que pode agravar o problema em questão, seja a dependência química, alcoolismo, transtornos de personalidade, etc. Todo amor que não produz paz, mas sim angústia ou culpa, está contaminado de codependência, é um amor patológico, obsessivo é bastante destrutivo. Ao não produzir paz interior nem crescimento espiritual, a codependência cria amargura, angustia e culpa, obviamente, ela não leva à felicidade. Então, vendo desse jeito, a codependência aparenta ser amor, mas é egoísmo, medo da perda de controle, da perda da relação em si.

Disfunção Familiar
Na família da pessoa problemática as relações familiares e a comunicação interpessoal vão se tornando cada vez mais complicadas. A comunicação se faz mais confusa e indireta, de modo que é mais fácil encobrir e justificar a conduta do dependente do que discuti-la. Esta dificuldade (disfunção) vai se convertendo em estilo de vida familiar e produzindo, em muitos casos, o isolamento da família dos contatos sociais cotidianos. As regras familiares se tornam confusas, rígidas e injustas para seus membros, de forma que os deveres passam a ser distorcidos, com algum prejuízo das pessoas que não têm problemas e privilégios da pessoa problemática.
Como se vê, a conduta codependente é uma resposta doentia ao comportamento da pessoa problemática, e se converte em um fator chave na evolução da dependência, isto é, a codependência promove o agravamento da situação da pessoa problemática, processo chamado de facilitação. Mas, os codependentes não se dão conta de que estão facilitando o agravamento do problema, em parte pela negação e em parte porque estão convencidos de que sua conduta esta justificada, uma vez que estão “ajudando” o dependente a não se deteriorar ainda mais e que a família não se desintegre.
Costuma ser mais freqüente do que se pensa, as pessoas codependentes buscarem ajuda médica, porém, sem que tenham crítica de tratar-se de codependência. Antes disso, essas pessoas se queixam de depressão ou simplesmente de estresse.
Os profissionais de saúde que trabalham na área de dependências, correm sempre o risco de desenvolver codependência como resultado da exposição crônica à dependência dos pacientes.
As manifestações dessa codependência profissional são muito variadas, podendo dizer respeito à assumir franca e pesada responsabilidade pelo dependente, protege-lo das conseqüências de suas decisões, e dar-lhe sermões repetitivos, enfim, assumir atitudes que ultrapassam as funções do profissional.
Quando acontece a codependência em profissionais da área (médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, pessoal da enfermagem), normalmente não há uma crítica imediata da situação, senão a sensação de que todas as atitudes objetivam genuinamente ajudar o paciente. Entretanto, a codependência está longe de ajudar, sendo mais provável um agravamento da dependência ou uma facilitação.
O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é correspondente as reações que vão ocorrendo com o sujeito que a utiliza. Este impacto pode ser descrito através de quatro estágios pelos quais a família progressivamente passa sob a influência das drogas e álcool:
1. Na primeira etapa, é preponderantemente o Mecanismo de Negação. Ocorre tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem.
2. Em um segundo momento, a família demonstra muita preocupação com essa questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas conseqüências físicas, emocionais, no campo do trabalho e no convívio social.
Mentiras e cumplicidades relativas ao uso abusivo de álcool e drogas instauram um clima de segredo familiar. A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as drogas e álcool não estão causando problemas na família.
3. Na terceira fase, a
desorganização da família é enorme. Seus membros assumem papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a oportunidade de perceber as conseqüências do abuso de álcool e drogas. ? comum ocorrer uma inversão de papéis e funções, como por exemplo, a esposa que passa a assumir todas as responsabilidades de casa em decorrência o alcoolismo do marido, ou a filha mais velha que passa a cuidar dos irmãos em conseqüência do uso de drogas da mãe.
4. O quarto estágio é caracterizado pela
exaustão emocional, podendo surgir graves distúrbios de comportamento e de saúde em todos os membros. A situação fica insustentável, levando ao afastamento entre os membros gerando desestruturação familiar
Recuperação da Codependência
A Codependência também pode ser agravante e desencadeante de depressão, suicídio, doenças psicossomáticas, e outros transtornos. Os grupos de ajuda para familiares de dependentes (químicos e alcoólicos) visam, principalmente, reverter este quadro, orientando os familiares a adotarem comportamentos mais saudáveis. Os profissionais acham que o primeiro passo em direção a esta mudança é tomar consciência e aceitar o problema.
O tratamento da Codependência pode consistir de psicoterapia, grupos de auto ajuda, terapia familiar e em alguns casos, antidepressivos e ansiolíticos. Os grupos de auto ajuda para familiares de dependentes, tais como, Alanom e Codependentes Anônimos são de grande utilidade no processo de recuperação familiar da codependência.

Codependentes Anônimos
Nos mesmos moldes dos Alcoólicos Anônimos, Codependentes Anônimos são grupos de ajuda com metodologia de relato em grupo e do estímulo para observância de algumas recomendações disciplinares e de alguns passos importantes. As chamadas Doze Tradições dos Codependentes Anônimos foram adaptados das 12 Tradições de Alcoólicos Anônimos conforme abaixo:
1- Nosso bem-estar comum deve estar sempre em primeiro lugar; a recuperação pessoal depende da unidade de Codependentes Anônimos.
2- Somente uma autoridade preside, em última análise, ao nosso propósito comum – um Poder Superior amantíssimo que Se manifesta em nossa consciência coletiva. Nossos líderes são apenas servidores de confiança; não têm poderes para governar.
3- O único requisito para ser membro da unidade de Codependentes Anônimos é ter um sincero desejo para relacionamentos saudáveis e amorosos.
4- Cada Grupo deve ser autônomo, salvo em assuntos que afetam outros Grupos, ou Codependentes Anônimos como um todo.
5- Cada Grupo tem um único propósito primordial – levar sua mensagem ao Codependente que ainda sofre.
6- Um Grupo de Codependentes Anônimos nunca deverá jamais endossar, financiar ou emprestar o nome de Codependentes Anônimos a qualquer sociedade parecida ou empreendimento alheio à irmandade, para que problemas de dinheiro, propriedade e prestígio não nos desviem de nosso propósito espiritual.
7- Cada Grupo deverá ser totalmente auto-sustentável, recusando assim contribuições de fora.
8- Codependentes Anônimos deverá permanecer sempre não profissional, embora nossos centros de serviços possam empregar trabalhadores especializados
9- Codependentes Anônimos, jamais deverá organizar-se como tal; podemos, porém, criar juntas ou comitês de serviço diretamente responsáveis perante aqueles a quem prestam serviços.
10- Codependentes Anônimos não opinam sobre questões alheia à Irmandade, portanto, o nome de Codependentes Anônimos, jamais deverá aparecer em controvérsias públicas.
11- Nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez da promoção; cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal em nível de imprensa, rádio e filmes.
12- O anonimato é a base espiritual de todas as nossas Tradições, lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades.
Vejamos agora os Doze Passos de Codependentes Anônimos, também adaptados dos 12 Passos de Alcoólicos Anônimos
1- Admitimos que éramos impotentes perante os outros - que nossas vidas haviam se tornado incontroláveis.
2- Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós, poderia nos devolver a sanidade.
3- Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidado de Deus como nós O concebíamos.
4- Fizemos um destemido e minucioso inventário moral de nós mesmos.
5- Admitimos perante a Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
6- Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
7- Humildemente rogamos a Deus para que nos livrasse de nossas imperfeições.
8- Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.
9- Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, exceto quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem. 10- Continuamos fazendo o inventário pessoal, e quando nós estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
11- Procuramos através da prece e da meditação melhorar nosso contato consciente com Deus como nós O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e força para realizar essa vontade.
12- Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos levar esta mensagem para outros codependentes e praticar estes princípios em todos as nossas atividades.
A American Society of Addiction Medicine propõe três fases para o tratamento de famílias de dependentes químicos, sendo que o nível de intervenção varia de acordo com a meta de tratamento estabelecida, bem como as necessidades da família. A tabela abaixo sumariza os níveis de intervenção familiar de acordo com as fases:
Fase I:
- 1. Trabalhar a negação;
- 2. Interromper o consumo de substâncias
Fase II:
- 1. Prevenir recaídas;
- 2. Estabilizar a família, melhorando seu funcionamento.
Fase III:
- 1. Aumentar a intimidade do casal, no plano emocional e sexual.
Segundo a psicóloga Neliana Buzi Figlie, especialista em dependência química, a Fase I objetiva que o dependente a atinja a abstinência. Para tal é importante auxiliar as pessoas a assumir a responsabilidade sobre seus comportamentos e sentimentos. Por vezes, alguns membros podem ser atendidos conjuntamente, enfatizando a diminuição da reatividade do impacto de um familiar nos outros. Ao pensar no modelo de doença, nesta fase é trabalhado o conceito de Codependência.
No referencial sistêmico, o foco centra-se na esposa definir uma posição de modo a quebrar o circulo repetitivo do funcionamento familiar e desta forma, auxiliar o dependente em sua recuperação. O referencial comportamental trabalha com a perspectiva de visualizar comportamentos do cônjuge que reforcem o comportamento aditivo, almejando a substituição por comportamentos que reforcem a sobriedade.
Na Fase II, ainda segundo Neliana Buzi Figlie, o foco é identificar padrões disfuncionais na família como um todo, tanto na família de origem, quanto da família de procriação. Nesta fase é importante retomar rituais familiares e conforme o grau de dificuldade, o encaminhamento para uma psicoterapia familiar especializada pode ser realizado.
A Fase III é definida como uma nova fronteira no tratamento da dependência química, sendo uma das áreas menos exploradas e talvez uma das mais controversas. Muito tempo após a cessação do consumo de substâncias, alguns relacionamentos continuam desgastados. Nesta fase o tratamento tem como meta aumentar a intimidade do casal e a participação de ambos no processo é fundamental.
Em termos de modalidades de tratamentos psicológicos, Neliana Buzi Figlie discorre sobre 4 tipos:
Grupos de Pares, onde os membros da família são distribuídos em diferentes grupos dependentes químicos, pais, mães, irmãos, cônjuges, etc. A interação entre pares é facilitadora de mudanças, uma vez que escutar de um par não é o mesmo que escutar de um profissional, porque o par passa por situação semelhante e não é alvo de fantasias e idealizações como o terapeuta.
Grupos de Multifamiliares. Através de um encontro de famílias que compartilham da mesma problemática, cria-se um novo espaço terapêutico que permite um rico intercâmbio a partir da solidariedade e ajuda mútua, onde as famílias se convocam para ajudar a solucionar o problema de uma e de todas, gerando um efeito em rede. Todas as famílias são participantes e destinatárias de ajuda.
Psicoterapia de Casal, onde os casais podem ser atendidos individualmente ou também em grupos, uma vez que o profissional tenha habilidades para conduzir as sessões sem expor particularidades que não sejam adequadas ao tema focado.
Psicoterapia Familiar. Aqui a é a abordagem mais especializada segundo um referencial teórico de escolha do profissional para a compreensão do padrão familiar e intervenção. Nesta modalidade se reúne a família e o dependente químico.

para referir:
Ballone GJ - Codependência - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008.




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